Soluções digitais são caminho crítico para descomoditizar e agregar valor aos grãos brasileiros
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O setor agrícola, e mais especificamente a movimentação de grãos, passou por uma revolução silenciosa que influencia os negócios de todos os seus participantes. Mudanças importantes na dinâmica desse mercado são influenciadas como os originadores de grãos operam hoje e como pretendem manter sua competitividade no futuro.
A velocidade na troca de informações e na volatilidade dos mercados, seja de futuros, frete ou câmbio, leva a uma tomada de decisão cada vez mais complexa. Há duas décadas, o comprador chinês não tinha ideia do que acontecia em Primavera do Leste, no Mato Grosso – um importante município produtor de soja, milho e algodão. Hoje, basta um smartphone e alguns segundos para saber, em detalhes, a condição das máquinas, os preços praticados e ter uma estimativa de quanto da safra já foi comercializada.
As margens de originação aumentam estimulantes, colocando pressão constante em controle de custos e busca por novas receitas. Não é de se estranhar o movimento de diversificação de receitas que as maiores negociações do país vêm fazendo já há alguns anos. Além de negociar os grãos dos produtores, eles também oferecem soluções de crédito, ferramentas de gerenciamento de risco e até insumos.
Produtores brasileiros, cada vez mais específicos em transacionar online e testar ferramentas digitais, sempre tiveram a vanguarda da adoção de novas tecnologias para produzir. Porém, para tecnologias digitais, o setor agrícola é um dos mais atrasados quando comparado a outros setores da economia. Nos últimos anos isso vem mudando. Os produtores estão cada vez mais dispostos a testar ferramentas digitais, seja para obter crédito, comprar bens ou vender grãos. Parte desse fenômeno ocorre porque há uma troca de geração acontecendo, mas mesmo a velha guarda já consegue ver os benefícios desse tipo de tecnologia para o dia a dia de seus negócios.
Os consumidores e gestores do setor são cada vez mais específicos em termos de transparência, rastreabilidade e sustentabilidade dos alimentos (e produtos diversos) que consomem. Cada vez mais, seja por mudança de hábitos ou pressão regulatória, existe uma demanda crescente por alimentos e produtos de origem conhecida, produzidos de forma sustentável e com as melhores práticas de governança.
Nesse cenário, vemos originadores de grãos acelerando sua jornada de digitalização e buscando soluções digitais e de análise de dados. Eles veem essas soluções como cada vez mais indispensáveis para gerenciar suas operações de maneira mais eficiente, exercer uma força comercial de forma mais eficaz, suportar uma tomada de decisões com base em dados e até agregar mais valor às transações de grãos.
Essas empresas estão nos primeiros estágios da jornada de digitalização. Ainda que tenham muitos projetos internos de desenvolvimento, a maioria não possui competências e governança para o desenvolvimento de produtos digitais com tecnologia de ponta, explorando normalmente soluções de terceiros que possam se integrar seus sistemas atuais. A digitalização e a automação avançaram significativamente nos últimos cinco anos, mas o nível de sofisticação ainda é baixo. À medida que as empresas que conseguirem acelerar essa jornada terão uma vantagem competitiva na próxima década e com base nessa demanda latente, novas plataformas surgirão no mercado brasileiro.
Foi esse contexto que fez a Indigo acelerar a vinda do Market+ (“MarketPlus”) no começo desse ano para o Brasil, uma ferramenta digital que visa aumentar a eficiência comercial das empresas compradoras de grãos através do uso de tecnologia e dados, além de viabilizar o aumento do valor agregado das commodities.
Uma das dores mais consistentes dos tempos comerciais é gastar muito tempo em atividades administrativas e operacionais, não tendo tempo suficiente para criar e manter relacionamento próximo com sua carteira de clientes, identificando oportunidades. O Market+ visa atacar justamente essa dor, propiciando um gerenciamento de propostas, ofertas e contratos de forma eficiente e intuitiva para os usuários. Além de facilitar o gerenciamento do processo interno, a ferramenta também cria um canal digital entre a empresa compradora e seus clientes, tendo ganhos adicionais de eficiência e operando melhor os clientes que buscam esse tipo de canal. Nesse sentido, a ferramenta é diferente de marketplaces, ao digitalizar a relação já existente entre comprador e vendedor, sendo um canal complementar aos canais já utilizados.
Fica cada vez mais claro que ferramentas como esse são um caminho crítico para avançarmos também na agenda de rastreabilidade e sustentabilidade. Como citado acima, os consumidores estão cada vez mais específicos no processamento dos alimentos e gastando a pagar um prêmio por produtos sustentáveis, o que leva à “descomoditização” de produtos agrícolas.
Descomoditizar é uma estratégia de definir características únicas em um produto, transformando o produto em um bem diferenciado. No caso da agricultura, um produtor que investe em práticas sustentáveis, seja fazendo plantio direto, usando culturas de cobertura, utilizando insumos biológicos, fazendo integração laboral-pecuária, entre outros, pode criar grãos mais sustentáveis e ser monetizado por isso. Para gerenciar a aferição dessas práticas, capturando e tratando os dados necessários, garantindo que os impactos positivos contidos no fato sejam realizados, ferramentas digitais de negociação de núcleos são essenciais. Essas ferramentas gerenciam as transações tradicionais, mas também criam condições para viabilizar também a comercialização desses grãos mais sustentáveis.
A Indigo já opera no Brasil com produtos biológicos para tratamento de sementes e soluções de crédito para produtores e investidores. Com o Market+, a Indigo traz mais uma de suas linhas de produto para a região, dando mais um passo para trazer sua plataforma completa, que tem como objetivo viabilizar a agricultura sustentável em larga escala, unindo sustentabilidade e lucratividade. Trata-se de uma proposta ousada, quiçá visionária, mas que parece se encaixar muito bem no caminho sem volta de um agronegócio com mais tecnologia, digitalização e sustentabilidade.
*Filipe Nunes – Engenheiro Agrônomo e Diretor de Desenvolvimento de Negócios Latam da Indigo
Fonte: Robson Silva/Sucesso no Campo