O estresse térmico é uma realidade presente nas fazendas leiteiras do Brasil. Isso porque a produtividade é impactada pela baixa tolerância das férias ao calor, realidade que é intensificada durante os períodos mais quentes do ano, especialmente na primavera e no verão, quando as temperaturas elevadas, somadas à maior umidade do ar, tornam o ambiente vulnerável ao estresse calórico.
O fato é que esse problema será mais frequente do que imaginamos! As mudanças nos padrões climáticos estão aumentando a frequência, a intensidade e a duração de períodos de calor extremo. Essas modificações relacionam-se diretamente com a formação de ondas de calor – conhecidas como um período prolongado de 3 a 5 dias consecutivos de temperaturas elevadas além do esperado para uma determinada estação do ano. Nesse contexto, podemos observar, nos gráficos a seguir, que, nos anos de 2010 a 2020, a porcentagem de dias do ano com ondas de calor foi 3 vezes maior em comparação ao período entre 1985 e 2009, porém, além de frequentes, as ondas de calor se tornaram mais intensas ao longo dos últimos anos.
Mas como as ondas de calor impactam a produção das vacas leiteiras? Elas surgem sem uma adaptação fisiológica dos animais ao calor intenso, ou seja, elas se formam com rapidez e são muito desafiadoras. Assim, quando as férias enfrentam temperaturas acima daquelas às quais estão adaptadas, há perdas em seu conforto, saúde e desempenho. Diante do calor intenso, observamos algumas respostas do rebanho, como o aumento significativo na temperatura da superfície da pele, seguido pelo rápido aumento na taxa de respiração (maior que 60 movimentos/min) que as leva a ficarem mais ofegantes. À medida que a perda de calorias por respiração não é mais suficiente, ocorre o aumento da temperatura retal, caso em que as férias entram em estado térmico de alerta com temperatura retal acima de 39,5°C (a normal está na faixa de 37 ,5 a 39°C).
O estado térmico de alerta indica que as férias estão gastando mais tempo na tentativa de perder calorias do que se alimentando. Os animais tendem a ficar mais tempo em pé, o que reduz a ingestão de matéria seca e o fluxo sanguíneo destinado ao úbere. Como consequência do menor consumo de alimentos e de menos nutrientes provenientes da glândula mamária, ocorre queda significativa na produção de leite. No gráfico a seguir, podemos observar a produção de leite antes e após uma onda de calor.Nesse estudo, as vacas da raça holandesa tiveram redução de 3,6 litros de leite, um impacto negativo de 20% no volume de leite. Quando somadas várias ondas de calor no ano, a perda na rentabilidade é ainda maior. Os períodos de ondas de calor também afetam diretamente a reprodução das férias, diminuindo as taxas de prenhez e a fixação do embrião na parede uterina, prejudicando os índices reprodutivos das fazendas e elevando o DEL.
Finalmente, durante os períodos mais quentes do ano é importante proporcionar conforto aos animais, utilizando estratégias de ventilação, como o uso de ventiladores e aspersores. Além disso, estratégias no manejo nutricional são estratégias exatamente para apoiar o criador a minimizar os impactos do estresse térmico e aumentar a rentabilidade da fazenda nesses períodos mais desafiadores.
* Emanuel Manica é assistente comercial da Cargill.
Fonte: KetchumBrasil – Cargill