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O agronegócio brasileiro teve uma participação especial na economia do país nos últimos anos. De acordo com dados fornecidos pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o agronegócio teve um recente aumento de 1,38% do PIB, no período de janeiro a agosto de 2019, representando 25% do PIB Nacional. Continue lendo e entenda como as empresas familiares impactam diretamente o agronegócio.

Junto com todo esse avanço econômico, aliado ao fato de que o Brasil, a cada dia que passa, se destaca no cenário mundial pela enorme capacidade de produção de alimentos e biocombustíveis, tanto para o consumo interno, quanto à exportação de grãos, vem os desafios do setor. Dentre eles, podemos citar as questões climáticas, tomada de crédito, logística, problemas jurídicos, sustentabilidade, meio ambiente, normas sanitárias e políticas comerciais e conflitos familiares, ou que revelam a necessidade das empresas do setor em adotar mecanismos para desenvolver uma gestão eficiente, trazendo essas dificuldades, com foco no desenvolvimento e perpetuação da empresa rural.

Nesse sentido, uma governança familiar pode ajudar o agronegócio como aquele que ajusta o indivíduo, a família e a empresa rural. Além de todas as funções de boas práticas, a governança, por meio das ferramentas utilizadas, pode reestabelecer a harmonia no relacionamento entre os membros da família, estabelecer novas lideranças, facilitar o processo sucessório que acontece através das gerações futuras, conciliar o crescimento natural dos membros da família com a rentabilidade da empresa, alinhando os interesses da empresa rural com as expectativas individuais de cada membro da família, dentre tantas outras possibilidades.

.A literatura traz alguns conceitos em que a governança em empresa familiar é entendida como: o conjunto de instâncias, práticas e princípios, formais ou informais, divulgados no âmbito da organização familiar que consolidam a estrutura de poder e orientam o sistema de relações decorrentes entre os indivíduos pertencentes às esferas da família, da propriedade e da gestão. (PEREIRA, Rafael Diogo. Sucessão, profissionalização e governança: (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010).

É importante ressaltar aqui que o agronegócio, diante do importante crescimento econômico, precisa urgentemente se profissionalizar, pois o mercado internacional não comporta mais amadorismos. O País tem hoje aproximadamente 5 milhões de propriedades rurais, das quais, aproximadamente 4,5 milhões são de pequenas ou médias portas, sendo que a imensa maioria ainda sem uma boa estrutura organizacional.

Quem trabalha no setor sabe de todos os riscos que envolvem o negócio. No entanto, existem, além dos riscos relativos à produtividade e à comercialização dos produtos, os riscos de administração e de gestão. O sucesso do negócio vai depender, dentre outras coisas, do alinhamento desses fatores: produtividade, riscos do negócio e lucro.
Assim, mitigando os riscos naturais do negócio, o empresário do agro precisa implementar em sua empresa mecanismos que formalizem as relações interpessoais, estabelecendo direitos e obrigações entre os participantes, definindo regras e procedimentos para tomada de decisão, com base nos valores e missão de cada família.
Sabemos que os desafios para sua implementação são grandes:
  • egocentrismo dos indivíduos;
  • relutância em delegar o poder para os mais novos;
  • os familiares que utilizam a caixa da empresa para cuidar dos seus hobbies;
  • confusão entre bens da empresa e da família;
  • falta de organização e gestão;
  • profissionalização dos colaboradores, que são quase sempre da família;
  • brigas e conflitos interpessoais atrapalhando a administração da empresa;
  • falha em transmitir os valores e a missão de cada família;
  • ausência de planejamento sucessório;
  • dentre outros.
Note-se que não há receita pronta. O processo leva tempo. Existem mecanismos utilizados em outras empresas familiares que deram certo, mas isso não significa que o mesmo sistema vai funcionar com outra empresa, com outra família, que tem suas particularidades. O segredo está em organizar uma estrutura societária que seja adequada à realidade.
É necessário sempre ressaltar que, dentro das empresas, a família veio antes da empresa. Se não for adequado às necessidades e expectativas dos indivíduos dentro da empresa familiar, não haverá estrutura societária que suporte um conflito familiar. A governança tem um papel negocial muito forte e surge como um elo que vai unir indivíduo, família e empresa, formalizando processos e ajustando as diretrizes de acordo com os valores transmitidos pela família.
Quando falamos sobre a longevidade da atividade rural iniciada pelo fundador, é importante que haja uma gestão e diretrizes bem definidas, proporcionando às gerações seguintes adequadas para que continuem o negócio de modo que estar no campo não seja visto como tábua de salvação, mas como escolha em dar continuidade aos negócios, com preparação adequada, mitigando os riscos e os conflitos familiares, transferindo o sucesso da empresa.

*Gabriela Krebs é advogada graduada pela FURB/SC, com formação pela Escola Superior da Magistratura Catarinense – ESMESC, especialista em Métodos de Resolução de Conflitos, Técnicas de Negociação e Mediação pela Universidade de Castilla la Mancha na Espanha, pós-graduada em Mediação e Negociação pela FUMEC/MG, especialista em Direito Tributário pela UNIJUI. Será nossa palestrante no Agromulher Voice, dia 23/02/2022, às 19h, em uma live encerramento de exclusiva e ao vivo sobre Governança Familiar.

Fonte: AGROMULHERz